A
socialização é fator indispensável ao processo de desenvolvimento do ser
humano, pois é através dela que o indivíduo apropria-se dos comportamentos
produzidos pela sociedade na qual está inserido e, consequentemente, amplia
suas possibilidades de interação, adquirindo valores, normas, costumes e
condutas que a mesma transmite e exige.
A
escola é sem dúvida, um importante contexto de socialização para qualquer
pessoa e será determinante para seu desenvolvimento e curso posterior de sua
vida, inclusive para pessoas com surdez, pois é neste espaço que a mesma vai
interagir com pessoas de diferentes meios familiares, concepções de vida, graus
de conhecimento, ou seja, irá conviver com a diversidade, para Damázio (2010), “antes
de tudo, por mais que diferentes nós humanos sejamos, sempre nos igualamos na
convivência, na experiência, nas relações, enfim, nas interações, por sermos
humanos”.
Percebemos
que a educação das pessoas com surdez é uma história repleta de controvérsias e
descontinuidades, e os estudos sobre o tema continuam a provocar essas
controvérsias, pois é polêmico e de grande interesse para os profissionais que
buscam uma melhor qualidade na educação do aluno com surdez. Na verdade, o que
podemos apurar, é que os pontos de vista sobre a surdez variam de acordo com as
diferentes épocas e os grupos sociais nos quais foram ou são produzidos.
A
Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(2008) propõe a superação de uma visão centrada de homem, sociedade, cultura e
linguagem de forma fragmentária, possibilitando a inclusão escolar de todos,
especialmente às pessoas com deficiência, apontando a escola comum como sendo a
melhor escola, inclusive para a pessoa com surdez.
Porém,
segundo Damázio:
Por mais que as
políticas estejam já definidas, muitas questões e desafios ainda estão para ser
discutidos, muitas propostas, principalmente no espaço escolar, precisam ser
revistas e algumas tomadas de posição e bases epistemológicas precisam ficar
mais claras, para que realmente, as práticas de ensino e aprendizagem na escola
comum pública e também privada apresentem caminhos consistentes e produtivos
para a educação de pessoas com surdez ( DAMÁZIO, 2010, p.47).
Sabemos,
no entanto, que é um grande desafio transformar a escola que temos na escola
que queremos, pois as mudanças de concepção pretendidas dependem da forma de
pensar e narrar a surdez, não mais pautada em padrões de normalidade, mas,
respaldada por avanços científicos nos estudos linguísticos,
sócio-antropológicos, psicológicos, entre outros, que valorizam e reconhecem o
potencial de cada ser humano.
Essa
nova compreensão da surdez, não nega que a mesma seja uma limitação auditiva,
porém, não estabelece limites para o sujeito que aprende, mas sim, possibilita
formas diferenciadas para a construção do conhecimento mediante a organização
das práticas pedagógicas.
Assim
ressaltamos, que o problema da educação das pessoas com surdez não pode
continuar sendo centrado nessa ou naquela língua, mas devemos compreender que o
fracasso escolar dessas pessoas está antes de tudo na má qualidade e na
ineficiência das práticas pedagógicas. Para DAMÁZIO (2010), “é preciso
construir um campo de comunicação e interação amplo, possibilitando que as
línguas tenham o seu lugar de destaque, mas que não sejam o centro de tudo o
que acontece nesse processo”.
No
processo de ressignificação da educação de pessoas com surdez, é necessário
discutir que, mais do que uma língua, elas precisam de ambientes educacionais
estimuladores (Damázio, 2010), pois só a posse de uma língua não basta para
aprender, pois se assim fosse as pessoas ouvintes não teriam problemas de
aproveitamento escolar, já que entram na escola com uma língua oral
desenvolvida.
Diante
do exposto, entendemos que a abordagem bilíngue é a que possibilita à pessoa
com surdez, o desenvolvimento de todo o processo educativo por oferecer duas
línguas de forma simultânea no ambiente escolar, onde a Língua Brasileira de
Sinais e a Língua Portuguesa, constituem línguas de instrução, que juntamente
com o Atendimento Educacional Especializado, garantem a formação plena dessas
pessoas, através da organização do trabalho complementar a classe comum,
visando à autonomia e à independência social, afetiva, cognitiva e linguística,
na escola e fora dela.
REFERÊNCIAS
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. FERREIRA,
Josinário de Paula. Educação escolar de
Pessoas com Surdez – Atendimento Educacional Especializado em Construção.
Coletânea UFC – MEC/2010.
DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Macedo. Educação Escolar Inclusiva para Pessoas com
Surdez na Escola Comum – Questões Polêmicas e Avanços Contemporâneos.
Brasília: MEC, SEESP, 2005.