Surdocegueira e Deficiência Múltipla
Incluir significa acolher o aluno
que lhe chega como pessoa real e única tenha ele deficiência ou não. Essa
atitude se manifesta em escuta e olhar atentos, sem pré-julgamentos ou
prognósticos de desempenho, baseados em preconceitos ou procedimentos escolares
excludentes.
Para todo e qualquer aluno, é
necessário repensar a organização espacial da escola e da sala de aula, bem
como rever as práticas pedagógicas, o que pressupõe a mobilidade e aprendizagem
de todos, incluindo os alunos com Surdocegueira e Deficiência Múltipla.
Para compreender e diferenciar a
surdocegueira de deficiência múltipla é necessário uma explicação sobre a
grafia das mesmas. Nesse sentido entendemos que:
SURDOCEGUEIRA: é uma deficiência única, com
graves perdas visual e auditiva combinadas. Essa condição leva a pessoa surdocega
a ter necessidades específicas de comunicação, para ter acesso à educação,
lazer, trabalho, vida social, etc. Não há necessariamente uma perda total dos dois
sentidos. Esta terminologia está sendo usada abandonando a palavra “surdo-cego”
em defesa de que a condição imposta pela surdocegueira não é simplesmente a somatória
de duas deficiências e sim uma dificuldade com características únicas que devem
ser tratadas de modo especial, pelas dificuldades que as pessoas surdocegas tem
para contatar o mundo e conseguir inserir-se nele (Lagati, 1995).
Mc
Innes (1999), subdivide as pessoas com surdocegueira em quatro categorias:
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Indivíduos que eram cegos e se tornaram surdos;
_
Indivíduos que eram surdos e se tornaram cegos;
_
Indivíduos que se tornaram surdocegos;
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Indivíduos que nasceram ou adquiriram surdocegueira precocemente e não tiveram
a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativas ou
cognitivas nem base conceitual sobre a qual possam construir uma compreensão de
mundo.
Segundo
Mc Innes, estas quatro categorias podem ser agrupadas em Surdocegos Congênitos
ou Surdocegos Adquiridos, e dependendo da idade em que a surdocegueira se
estabeleceu pode-se classificá-la em Surdocegos Pré-linguísticos ou Surdocegos
Pós-linguísticos.
Para
o mesmo autor, o indivíduo com surdocegueira demonstra dificuldades em observar,
compreender e imitar o comportamento de membros da família ou de outros que venha
entrar em contato, devido à combinação das perdas visuais e auditivas que
apresenta. Assim a aprendizagem incidental ocorre com menor frequência, pois as
perdas parciais ou totais dos sentidos de distancia fazem com que a informação
do meio lhe venha entrecortada e algumas vezes sem nexo, por isso, durante o
processo de comunicação o professor ou outro interlocutor tem a função de antecipar
o que vai acontecer ou o local em que vai acontecer a atividade, estimular a
pessoa para se comunicar e explorar o ambiente, confirmar se ela está
interpretando as informações e a todo o momento comunicar o que ocorre no
ambiente.
Se
uma comunicação efetiva não for estabelecida na infância, a pessoa pode ao
crescer, tornar-se um jovem ou adulto com comportamentos inadequados para se
comunicar, bem como, a redução na quantidade de estimulação recebida do mundo
externo pode resultar em hábitos substitutivos e inadequados de
autoestimulação.
DEFICÊNCIA MÚLTIPLA –
DMU: São
consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que “tem mais de uma
deficiência associada. É uma condição heterogenia que identifica diferentes
grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam,
mais ou menos intensamente, o funcionamento social” (MEC/SEESP, 2002).
O conceito de deficiência múltipla
varia entre os estudiosos, na Política Nacional de Educação Especial (BRASIL,
1994, p.15) a deficiência múltipla era definida como: “associação, no mesmo
indivíduo de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditivo-física),
com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na
capacidade adaptativa”. Esse conceito de deficiência múltipla é referendado
pelo Decreto n.3.298/99 que define a categoria como “associação de duas ou mais
deficiências” (art.4, V). Implica uma gama extensa de associação de deficiências
que podem variar conforme o número, a natureza, a intensidade e a abrangência
das deficiências associadas e o efeito dos comprometimentos decorrentes, no
nível funcional. Para outros autores, a deficiência múltipla seria “a
ocorrência de apenas uma deficiência, cuja gravidade acarreta consequências em
outras áreas ” (BRASIL, 2000 p. 47). Por exemplo, um bebê com deficiência no
funcionamento da tireoide, se não receber tratamento adequado, pode vir a ser
afetado em diversas áreas do desenvolvimento: intelectual, psicomotora e de comunicação
entre outras. Nessa concepção, uma deficiência inicial é geradora de outras deficiências
secundárias, vindo a caracterizar a múltipla deficiência.
De acordo com a Fenapaes (2007,
p.22), ao considerar a gravidade da deficiência múltipla, os seguintes aspectos
são considerados: tipo e número de deficiências associadas; abrangência das
áreas comprometidas; idade de aquisição das deficiências; nível ou “grau” das
deficiências associadas. A consideração sobre “gravidade” das deficiências
depende de muitos aspectos que extrapolam as condições individuais das pessoas
afetadas. Outros aspectos estão envolvidos, tais como: a atitude de aceitação por
parte da família; a intervenção adequada para atuar nas causas e nos efeitos
das deficiências; a oportunidade de participação e integração da pessoa ao
ambiente físico e social; o apoio adequado, com a duração necessária, para
melhorar o funcionamento da pessoa no ambiente; o incentivo à autonomia e à
criatividade; as atitudes favoráveis à formação do autoconceito e da autoimagem
positivos. Dentre todos os aspectos considerados,
entende-se que a educação exerce um papel relevante. Intervenções apropriadas e
iniciadas o mais cedo possível, resultam em melhores condições de desenvolvimento,
de aprendizagem e de inclusão familiar e comunitária. A finalidade da abordagem
educacional é melhorar a qualidade de vida das pessoas com múltipla deficiência.
As características específicas
apresentadas pelas pessoas com deficiência múltipla lançam desafios à escola e
aos profissionais que com elas trabalham no que diz respeito à elaboração de
situações de aprendizagem a serem desenvolvidas para que sejam alcançados
resultados positivos ao longo do processo de inclusão. Esses alunos constituem
um grupo com características específicas e peculiares e, consequentemente, com
necessidades únicas. Por isso, faz-se necessário dar atenção a dois aspectos
importantes: a comunicação e o posicionamento. Assim, quanto a comunicação da
pessoa com deficiência múltipla, qualquer comportamento deverá ser considerado
uma tentativa de comunicação, uma vez que, todas as pessoas se comunicam, ainda
que em diferentes níveis de simbolização e com formas de comunicação diversas.
E quanto ao posicionamento é indispensável uma boa adequação postural.
Diante do exposto, entendemos que a
surdocegueira é uma deficiência única com graves perdas visual e auditiva
combinadas, enquanto que a deficiência múltipla é caracterizada pela associação
entre diferentes deficiências, com possibilidades bastante amplas de
combinações, afetando duas ou mais áreas.
O processo de aprendizagem tanto de
alunos com surdocegueira, quanto de alunos com deficiência múltipla, requer
modificações. Para isso, faz-se necessária uma análise crítica das relações
inter e intrapessoais vividas na escola, modificações espaço-temporais,
didático-pedagógicas e organizacionais que garantam a promoção da aprendizagem
e inclusão desses alunos no grupo.
A educação das pessoas com
surdocegueira e deficiência múltipla, é uma situação educativa complexa que exige
uma análise lúcida e crítica acerca do cenário escolar, das situações e
condições concretas existentes, dos conteúdos propostos e das estratégias e alternativas
metodológicas que atendam as necessidades de desenvolvimento, de interação,
comunicação, autonomia, socialização e participação nas atividades pedagógicas,
nas brincadeiras e atividades lúdicas.
A proposta pedagógica, para esses
alunos, deverá estar pautada numa visão construtivista do conhecimento , tendo no mesmo e nas suas
possibilidades o centro da ação educativa. Assim, o processo pedagógico é
construído a partir das possibilidades, das potencialidades, daquilo que o
aluno já dá conta de fazer. É isso que o motiva a trabalhar, a continuar se
envolvendo nas atividades escolares, garantindo assim, o sucesso do aluno e sua
aprendizagem.
REFERÊNCIAS:
- BOSCO, Ismênia C. M. G; MESQUITA,
Sandra R. S. H.; MAIA, Shirlei R. Coletânea UFC – MEC/2010: A Educação Especial
na Perspectiva da Inclusão Escolar.
Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla.
- BRASIL, Saberes e Práticas da Inclusão:
dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiência múltipla. MEC/SEESP, 2010.
- SILVA, Iara C. Romano. Deficiência Múltipla: Conceito e
Caracterização. VII EPCC, Encontro Internacional de Produção Científica,
2011.