quarta-feira, 23 de abril de 2014

INFORMATIVO SURDOCEGUEIRA E DMU

Surdocegueira e Deficiência Múltipla


Incluir significa acolher o aluno que lhe chega como pessoa real e única tenha ele deficiência ou não. Essa atitude se manifesta em escuta e olhar atentos, sem pré-julgamentos ou prognósticos de desempenho, baseados em preconceitos ou procedimentos escolares excludentes.    
Para todo e qualquer aluno, é necessário repensar a organização espacial da escola e da sala de aula, bem como rever as práticas pedagógicas, o que pressupõe a mobilidade e aprendizagem de todos, incluindo os alunos com Surdocegueira e Deficiência Múltipla.
Para compreender e diferenciar a surdocegueira de deficiência múltipla é necessário uma explicação sobre a grafia das mesmas. Nesse sentido entendemos que:


SURDOCEGUEIRA: é uma deficiência única, com graves perdas visual e auditiva combinadas. Essa condição leva a pessoa surdocega a ter necessidades específicas de comunicação, para ter acesso à educação, lazer, trabalho, vida social, etc. Não há necessariamente uma perda total dos dois sentidos. Esta terminologia está sendo usada abandonando a palavra “surdo-cego” em defesa de que a condição imposta pela surdocegueira não é simplesmente a somatória de duas deficiências e sim uma dificuldade com características únicas que devem ser tratadas de modo especial, pelas dificuldades que as pessoas surdocegas tem para contatar o mundo e conseguir inserir-se nele (Lagati, 1995).


Mc Innes (1999), subdivide as pessoas com surdocegueira em quatro categorias:
_ Indivíduos que eram cegos e se tornaram surdos;
_ Indivíduos que eram surdos e se tornaram cegos;
_ Indivíduos que se tornaram surdocegos;
_ Indivíduos que nasceram ou adquiriram surdocegueira precocemente e não tiveram a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativas ou cognitivas nem base conceitual sobre a qual possam construir uma compreensão de mundo.
Segundo Mc Innes, estas quatro categorias podem ser agrupadas em Surdocegos Congênitos ou Surdocegos Adquiridos, e dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu pode-se classificá-la em Surdocegos Pré-linguísticos ou Surdocegos Pós-linguísticos.
Para o mesmo autor, o indivíduo com surdocegueira demonstra dificuldades em observar, compreender e imitar o comportamento de membros da família ou de outros que venha entrar em contato, devido à combinação das perdas visuais e auditivas que apresenta. Assim a aprendizagem incidental ocorre com menor frequência, pois as perdas parciais ou totais dos sentidos de distancia fazem com que a informação do meio lhe venha entrecortada e algumas vezes sem nexo, por isso, durante o processo de comunicação o professor ou outro interlocutor tem a função de antecipar o que vai acontecer ou o local em que vai acontecer a atividade, estimular a pessoa para se comunicar e explorar o ambiente, confirmar se ela está interpretando as informações e a todo o momento comunicar o que ocorre no ambiente.
Se uma comunicação efetiva não for estabelecida na infância, a pessoa pode ao crescer, tornar-se um jovem ou adulto com comportamentos inadequados para se comunicar, bem como, a redução na quantidade de estimulação recebida do mundo externo pode resultar em hábitos substitutivos e inadequados de autoestimulação.

DEFICÊNCIA MÚLTIPLA – DMU: São consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que “tem mais de uma deficiência associada. É uma condição heterogenia que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento social” (MEC/SEESP, 2002).
O conceito de deficiência múltipla varia entre os estudiosos, na Política Nacional de Educação Especial (BRASIL, 1994, p.15) a deficiência múltipla era definida como: “associação, no mesmo indivíduo de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditivo-física), com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa”. Esse conceito de deficiência múltipla é referendado pelo Decreto n.3.298/99 que define a categoria como “associação de duas ou mais deficiências” (art.4, V). Implica uma gama extensa de associação de deficiências que podem variar conforme o número, a natureza, a intensidade e a abrangência das deficiências associadas e o efeito dos comprometimentos decorrentes, no nível funcional. Para outros autores, a deficiência múltipla seria “a ocorrência de apenas uma deficiência, cuja gravidade acarreta consequências em outras áreas ” (BRASIL, 2000 p. 47). Por exemplo, um bebê com deficiência no funcionamento da tireoide, se não receber tratamento adequado, pode vir a ser afetado em diversas áreas do desenvolvimento: intelectual, psicomotora e de comunicação entre outras. Nessa concepção, uma deficiência inicial é geradora de outras deficiências secundárias, vindo a caracterizar a múltipla deficiência.


De acordo com a Fenapaes (2007, p.22), ao considerar a gravidade da deficiência múltipla, os seguintes aspectos são considerados: tipo e número de deficiências associadas; abrangência das áreas comprometidas; idade de aquisição das deficiências; nível ou “grau” das deficiências associadas. A consideração sobre “gravidade” das deficiências depende de muitos aspectos que extrapolam as condições individuais das pessoas afetadas. Outros aspectos estão envolvidos, tais como: a atitude de aceitação por parte da família; a intervenção adequada para atuar nas causas e nos efeitos das deficiências; a oportunidade de participação e integração da pessoa ao ambiente físico e social; o apoio adequado, com a duração necessária, para melhorar o funcionamento da pessoa no ambiente; o incentivo à autonomia e à criatividade; as atitudes favoráveis à formação do autoconceito e da autoimagem positivos.  Dentre todos os aspectos considerados, entende-se que a educação exerce um papel relevante. Intervenções apropriadas e iniciadas o mais cedo possível, resultam em melhores condições de desenvolvimento, de aprendizagem e de inclusão familiar e comunitária. A finalidade da abordagem educacional é melhorar a qualidade de vida das pessoas com múltipla deficiência.
As características específicas apresentadas pelas pessoas com deficiência múltipla lançam desafios à escola e aos profissionais que com elas trabalham no que diz respeito à elaboração de situações de aprendizagem a serem desenvolvidas para que sejam alcançados resultados positivos ao longo do processo de inclusão. Esses alunos constituem um grupo com características específicas e peculiares e, consequentemente, com necessidades únicas. Por isso, faz-se necessário dar atenção a dois aspectos importantes: a comunicação e o posicionamento. Assim, quanto a comunicação da pessoa com deficiência múltipla, qualquer comportamento deverá ser considerado uma tentativa de comunicação, uma vez que, todas as pessoas se comunicam, ainda que em diferentes níveis de simbolização e com formas de comunicação diversas. E quanto ao posicionamento é indispensável uma boa adequação postural.
 Diante do exposto, entendemos que a surdocegueira é uma deficiência única com graves perdas visual e auditiva combinadas, enquanto que a deficiência múltipla é caracterizada pela associação entre diferentes deficiências, com possibilidades bastante amplas de combinações, afetando duas ou mais áreas.
O processo de aprendizagem tanto de alunos com surdocegueira, quanto de alunos com deficiência múltipla, requer modificações. Para isso, faz-se necessária uma análise crítica das relações inter e intrapessoais vividas na escola, modificações espaço-temporais, didático-pedagógicas e organizacionais que garantam a promoção da aprendizagem e inclusão desses alunos no grupo.


A educação das pessoas com surdocegueira e deficiência múltipla, é uma situação educativa complexa que exige uma análise lúcida e crítica acerca do cenário escolar, das situações e condições concretas existentes, dos conteúdos propostos e das estratégias e alternativas metodológicas que atendam as necessidades de desenvolvimento, de interação, comunicação, autonomia, socialização e participação nas atividades pedagógicas, nas brincadeiras e atividades lúdicas.


A proposta pedagógica, para esses alunos, deverá estar pautada numa visão construtivista  do conhecimento , tendo no mesmo e nas suas possibilidades o centro da ação educativa. Assim, o processo pedagógico é construído a partir das possibilidades, das potencialidades, daquilo que o aluno já dá conta de fazer. É isso que o motiva a trabalhar, a continuar se envolvendo nas atividades escolares, garantindo assim, o sucesso do aluno e sua aprendizagem.



REFERÊNCIAS:


- BOSCO, Ismênia C. M. G; MESQUITA, Sandra R. S. H.; MAIA, Shirlei R. Coletânea UFC – MEC/2010: A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. Fascículo 05: Surdocegueira e Deficiência Múltipla.
- BRASIL, Saberes e Práticas da Inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem: deficiência múltipla. MEC/SEESP, 2010.
- SILVA, Iara C. Romano. Deficiência Múltipla: Conceito e Caracterização. VII EPCC, Encontro Internacional de Produção Científica, 2011.